Sempre ando descalça
Demora e pressa são só palavras
E toda palavra não fala
Falam bocas
Falam corpos inteiros
Que caminham com demora ou pressa
Sentada no trem, não há vento nos meus cabelos
O frio está lá fora
Aqui nada sinto
Além de espera
Caminhos são invenções
Tudo é
O artista desenha círculos imperfeitos
Mas quem é capaz
De fazê-los perfeitos
Não tem mãos para desenhar
Nem faltas…
***
Vives ali na linha dos meus delírios
Horizonte de perder-se
Longe da língua e dos risos
E dos substantivos
Verbos doces de sonhos
Conjugados em feitiços
Feitos em caldeirões de barro
Desses perdidos no tempo
Das esperanças
E ausências de contato
Vives ali
Se é que vives
Pois todo viver é uma invenção
Ou um delírio do tempo
Assim como a morte e a prisão
real mesmo é apenas desordem
O meu horizonte inventado
***
Onde me era caos fez-se silêncio
Onde era frio, pausa
Onde era medo, estrada