POESIA

Sempre ando descalça e outros poemas

Sempre ando descalça

Demora e pressa são só palavras

E toda palavra não fala

Falam bocas

Falam corpos inteiros

Que caminham com demora ou pressa

Sentada no trem, não há vento nos meus cabelos

O frio está lá fora

Aqui nada sinto

Além de espera

Caminhos são invenções

Tudo é

O artista desenha círculos imperfeitos

Mas quem é capaz

De fazê-los perfeitos

Não tem mãos para desenhar

Nem faltas…

 

***

 

Vives ali na linha dos meus delírios

Horizonte de perder-se

Longe da língua e dos risos

E dos substantivos

Verbos doces de sonhos

Conjugados em feitiços

Feitos em caldeirões de barro

Desses perdidos no tempo

Das esperanças

E ausências de contato

Vives ali

Se é que vives

Pois todo viver é uma invenção

Ou um delírio do tempo

Assim como a morte e a prisão

real mesmo é apenas desordem

O meu horizonte inventado

 

***

 

Onde me era caos fez-se silêncio

Onde era frio, pausa

Onde era medo, estrada

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Samantha Buglione

Samantha Buglione é filósofa, psicanalista e doutora em ciências humanas, É autora dos livros “O amor e suas vontades” (2017) e “Somos Instantes” (2018), Carimbos (2020), O caracol sem teto (2021), A mãe inventada (2022) e Diário da menina vestida de blue (2024).