Eu me lembro de o escritor Nelson de Oliveira ter dito que muitas vezes aqueles erros que nos confrontam, que reaparecem em novas roupas, por mais que tentemos apagá-los, nos constituem, constituem nossa voz, nosso estilo.
Estou parafraseando-o, provavelmente ele disse algo bem diferente disso, mas, do que ouvi, isso foi o que me marcou e me fez muito sentido. Quando fiz a tutoria para a escrita da Dança Sueca, um dos “defeitos” apontados pela tutora no romance era a quantidade grande de personagens e de histórias, muitas desnecessárias.
Demorei a entender que este é meu estilo, mais exatamente quando fui apresentada ao universo incrível de Alice Munro. Cada conto seu é constituído por personagens complexos (mais complexos que em muitos romances) justamente porque carregam muitos personagens em si.
Quando percebi que, justo eu, que me debrucei sobre o tema alteridade no doutorado, não posso negar que cada pessoa é constituída de muitas pessoas e atravessada por muitas histórias. Evidentemente isso também estará nos meus escritos e em meus personagens, não há como escapar.
Não por acaso meu tema favorito é a família, mais especificamente a família brasileira, grande, que enche as mesas aos domingos, todos falam ao mesmo tempo, ninguém se entende, todos se entendem. A tia é também irmã, mãe, filha, cunhada, ao mesmo tempo que sempre terá um papel com o qual se vestir, mesmo que não lhe sirva mais, a filha pródiga, a quieta, a problemática etc.
Em Dança Sueca mantenho essa confusão de denominações e esses papéis imutáveis. Em A face mais doce do azar também, ainda que trate de assuntos mais difíceis.
Posso mudar de assunto, tema, mas não abro mão das muitas histórias e pessoas que uma só pessoa carrega. Mesmo que escreva um romance sobre um personagem apenas, inevitavelmente, o romance será sobre mil e uma histórias.